terça-feira, 30 de junho de 2009

MOTORPSYCHO NIGHTMARE

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PENSEI QUE PASSAVAM SÉCULOS sem a tua sem a minha presença naquele sebo de discos. Nunca atinei para as passagens entre uma seção e outra ali eram tão estreitas ou se eu que engordei um bocado. Certamente a segunda opção. Também era mochila, casaco e um trago antes que atrapalham, às vezes. ESTAR EM COPACABANA É ANDAR. A lojinha com os mesmos clientes os mesmos discos não muda é a alegria de encontrar uma coletânea de Bonnie Tyler, a trilha de Baywatch, um do 2Pac que eu não conhecia, Leadbelly e uma coletânea de violeiros do Acervo Funarte.

Descansam eternamente em berço esplêndido Fátima Guedes, Simone, Luiz Melodia, Belchior e Simply Red. Não me admira todos os discos de Simply Red estarem ali e quase tudo do Simple Minds e será que é hoje que levo o Rebel Yell do Billy Idol? A atendente oferece uma edição especial do Thriller de Michael Jackson e como o interesse pelos discos do cara aumentou tanto que se esgotaram as possibilidades. Acho que foi a primeira vez que tive em minhas mãos o Back to Black de Amy Winehouse. Achei que este disco só existisse no meu computador. Também não conheço outro computador que não seja o meu e já basta

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- É sempre assim. Cai um avião e logo em seguida cai outro.

Olhei pra cara do sujeito que não parava de falar um minuto o top 5 de assuntos malas.

- E quando cai um terceiro? – Perguntou a atendente.

- Aí cai mais um.

- Então não vai parar de cair?

- Não. Não vai.

É a lei da natureza, são as leis da astrofísica, é uma puta coincidência e o destino e o livre arbítrio ao mesmo tempo e é mais fácil duas mulheres dividirem o mesmo cara do que uma mulher dividir dois homens diferentes e é muito difícil ser amigo numa hora dessas e o quanto isso tem de anos 70 seriado novo bela palestra belas palavras e também sou um brasileiro que curte São Paulo e a Argentina e também não vejo nada de mal nisso ou ainda posso me apaixonar?, pensei. Pensei?

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UM SONHO: Um show com todos os meus amigos dentro do cinema e Flea e John Lurie na tela e A CIDADE COALHADA de motos, motocicletas, vinte mil, vinte mil carangos e motocas e a turma do chapa, os balaios, os abutre´s, os tiozão, as tiazinha, CACHORRO BABUCHO sou eu Hunter Thompson em Tiradentes Medo e Delírio naquele belo final de tarde na serra ao som de Keith Hudson, Mestre Ambrósio, Gershwin the man I love e Bob Dylan no talo the motorcycle Black Madonna two wheel gipsy queen it ain´t me babe no no no it ain´t me babe it ain´t me you´re looking for babe. Babe? Compre babe beba baby não seja bobão. Ou não. olha que eu fumo e tusso fumaça de gasolina olha que eu fumo e tusso a novela a novela a novela novelo da vida se enrola e desenrola má vontade descarada de levantar da cama

Em SP que assisti o espetáculo de Pina Bausch: “PARA AS CRIANÇAS DE ONTEM, HOJE E AMANHÔ. Teatro e dança sem fronteiras, trilha sonora perfeita, ternura, violência, precisão, amor, sensualidade, mistério, interminável seria a lista de tantas qualidades possíveis para nomear o que vi cabia cabe estava dentro do que eu quero falar sobre trajetória, sobre estar aqui sobre medo de ver escutar que ainda posso que ainda posso que ainda posso ir bem mais

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segunda-feira, 29 de junho de 2009

In Memoriam

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“Don´t Stop Till You Get Enough”

terça-feira, 23 de junho de 2009

CORTA PARA

VIA PÚBLICA

trânsito porrada playboy e coroa caídos perto meio fio chute na cara e o coroa estatelado playboy partiu cantando pneu gritando seu merda isso foi bem em frente a igreja voz feminina sussurrou isto acontecia porque eles não tinham Deus no coração ora se me faz favor minha senhora isso aconteceu discussão de um fechar o outro no cruzamento eu vi

ou achei que vi seus olhos nos olhos de outra pessoa ou isto foi um seriado real ou imaginário ou isto foi a novela ontem

enjoado com jornal pau come polícia governo milícia e você mudou e não me disse nada acostumado com sua ausência apesar de sempre presente não é mais novidade quer saber cansei desse lodo familiar confusão total pasmo corta para

um bom momento sua mensagem me puxa pra casa e vontade de rir três da manhã quando te encontrar agradável será tratar o tempo assim continuar e continuar vivendo

a partir e avante

duas três vezes o despertador tocou quase perco a hora toda hora nenhum som fraco ou forte demais o café corta para o mesmo lugar completamente só isso

segunda-feira, 22 de junho de 2009

PORNOPOPÉIA

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Comecei a ler ontem esse livro de Reinaldo Moraes que só tinha ouvido falar mas nunca tinha lido nada dele. Sabia da importância de seu primeiro livro, “Tanto Faz” de 1981, e como leitura é uma coisa cumulativa, outras coisas entraram na frente e aqui estamos no ano de 2009.

“Beatnik é o cacete!” exclamação que dava título a matéria do Globo quando do lançamento de “Pornopopéia”. Eu e meu amigo Persegonha repetimos a frase com ênfase até hoje. Temos esta peculiaridade quando gostamos de algumas assertivas.

O fato é que a expressão do autor cai bem para o “Pornopopéia”, que não se enquadra em rótulos. A narrativa prende e quando vi já estava na página 70 sem querer parar e só pisei no freio dado o avanço da hora.

A história de Zeca, cineasta e escritor com bloqueio é velha, mas aqui se refaz e instiga na situação de que ele precisa entregar um roteiro de um institucional para a fábrica de embutidos de frango Itaquerambu, trabalho sacal, mas que garante umas semanas de folga e farra. Por “Farra” leia-se desregramento dos sentidos por substâncias entorpecentes como cocaína, álcool, brenfa e sexo. É justamente por causa de uma mega-farra de dias atrás, ou uma “surubrâmane”, que o protagonista participou que vem o bloqueio. Ele acredita que só vai ter espaço na cabeça para o institucional se contar ou escrever em detalhes o que aconteceu na bacanal. Seguindo o pensamento atravessado por cobranças do cliente, “esse Deus do Olimpo”, do trafica e da ex-mulher, Zeca tenta rememorar a orgia triunfal em que se meteu e foi metido.

É uma narrativa engraçada, franca, sem vontade nenhuma de ser hermética, experimental ou para utilizar um clichê dos infernos: “marginal”. A mistura de erudição com malandragem de Reinaldo Moraes flui naturalmente.

Reproduzo aqui alguns trechinhos:

“O que tá pegando é esse oco na cabeça que sempre me acomete depois duma viagem de ácido. É um oco diferente dessa vez, como uma série de ôcos embutidos um dentro do outro, até o oco nuclear e infinitesimal onde se abriga o vazio compacto da alma inexistente.

A alma, como se sabe, é um organismo arcaico com três órgãos: miolos, estômago e genitália. Nenhum deles, no meu caso, quer saber de embutidos de frango. Sem condições. Pau no cu da Itaquerambu. Reiteram em rima pobre as três instâncias de minhalma rastaqüera que me pariu.”

“O papo ali era foco no cliente, agregar valor, sinergia, comunicação integrada, trade marketing, upscalling, benchmarking, opportunity scanning eo o caralhaquatring. Levemente cheirado e fumado – sempre dou uns pegas e uns tirinhos no carro antes das reuniões – eu boiava naquele patuá barbárico. Fico dois, três meses sem pegar um job, e quando volto à ativa, já não entendo metade do que esses caras falam, tão rápido se renova a porra do marquetês.”

“Não tenho mais gosto por esse arsenal de “ganchos” que visam deixar o espectador pendurado pelo saco na fornalha da ansiedade.”

Beatnik é o cacete!

sábado, 20 de junho de 2009

BERLIN

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A primeira vez que ouvi esse disco foi como se eu tivesse encontrado uma passagem para a “Zona Neutra”. Era a mesma sensação do dia em que ouvi o “Never Mind the Bollocks” dos Pistols só que mil vezes mais neutralizante.

O disco, gravado em 1973, é de uma unidade impressionante, as faixas são interligadas e contam uma história que pode ser dividida em atos, como uma peça, ou a já desgastada expressão “ópera rock”. Lou Reed praticamente inventou o punk desde que nasceu, mas aqui ele atinge o pico (sem trocadilhos) tocando em temas como drogas, depressão, suicídio e violência.

“Eu quero ser uma mistura de Elvis com Dostoievski.” É isso, acho que essa frase é dele e pode ser tomada como a mais pura verdade. A base de Lou Reed é o rock and roll mais autêntico somado a uma formação intelectual triunfante que mistura os clássicos com a vida nas ruas (e quem disse que uma coisa é distinta da outra?).

Apesar de ser considerado um dos melhores discos já feitos, estar sempre na famigerada lista dos “dez mais”, não vendeu uma mísera cópia e por muito tempo ficou apenas na memória de quem ouviu. Por mais de trinta anos ele jamais apresentou o disco ao vivo.

Lou Reed with his band (L to R: Steve Hunter, Bob Ezrin, Lou Reed, Tony Smith, Fernando Saunders)

Em 2006, Lou Reed juntou uns amigos e recriou “Berlin” ao vivo com direito a orquestra, em apenas cinco noites em um teatro no Brooklyn, NY. O diretor Julian Schnabel (O Escafandro e a Borboleta, Basquiat) que de bobo não tem nada, participou do processo e filmou tudo.

A força de “Lady Day”, “Men of Good Fortune”, “Caroline Says”, “How Do You Think It Feels”, “Sad Song”, todas, todas as canções que reviram o soul, o blues e o gospel de cabeça pra baixo fazem com que no final você tenha a sensação de ter visto um clássico da tragédia moderna. Para tornar a coisa ainda mais atraente, o concerto ainda contou com a participação da atriz Emanuelle Seigner em projeções no fundo do palco e Anthony Hogarty do “Anthony and the Johnsons” nos backing vocais.

Assisti aos dois concertos de Lou quando ele esteve aqui no Rio e não me esqueço jamais. Nunca vi alguém com tamanha atitude cool em um palco. E acredito que vai ser difícil ver de novo.

Segue uma pungente apresentação em 1972, aqui com John Cale...

 

quinta-feira, 18 de junho de 2009

APENAS O FIM

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Sempre acreditei no seguinte: Quem volta do “Além-Barra-da-Tijuca” merece algum tipo de compensação. E, nas atuais circunstâncias, perdão pelo exemplo pessoal, a compensação cultural é a que importa. Por isso, sempre que posso, antes de finalmente chegar em casa, assisto alguma coisa no cinema.

O filme da vez foi “Apenas o Fim” de Matheus Souza. Primeiro, é preciso traçar uma breve descrição do que é um cinema no meio da tarde. São só velhinhos, funcionários, estudantes e algum incauto que acabou de voltar da Barra, ou seja, uma terra desolada. Se, por um lado isso é bom, porque não tem fila, por outro é um desmantelo porque as senhorinhas falam alto e combinam férias em Águas de Lindóia e comem pipocas e falam alto do “Chisps” (sic.) do celular que ainda não chegou e sabe lá quando vai chegar e que ela vai mudar de plano, enfim...quase me meti na conversa, mas achei por bem, mudar de lugar, já que opção eu tinha de sobra.

Em uma nova cadeira, começa o filme e em quarenta minutos começo a me perguntar qual o sentido de tudo aquilo. Não que o filme seja de todo ruim, não é isso, apesar de ter mais cara de exercício ou de um bom curta, comecei a desconfiar que todas as partes que me capturaram, estavam no trailer que eu vi mês passado.

Esse filme fala pra quem?, pensei. Comecei a achar tudo meio hermético, apesar de saber do que os personagens estavam falando. No início impressiona, mas depois de um certo tempo, o exagero e a quantidade absurda de referências, praticamente uma a cada vírgula, que nunca me disseram respeito como “Cavaleiros do Zodíaco”, “Tartarugas Ninja” e “Playstation” só me fizeram pensar que, talvez, Águas de Lindóia seja uma boa opção para as férias.

Depois eu pensei, tudo bem. É um filme que só conta uma história, sem pretensões de “pensar o Brasil” como muitos filmes por aí, mas também pensei estar mais do que na hora de saber como é que o cinema nacional pensa o universitário, ou o cara é maconheiro alienado ou é um nerd triunfante.

Para continuar na onda das referências e dos exemplos pessoais, com alguns casamentos nas costas, o filme perde intensidade quando você chega em um determinado ponto onde você percebe que, afinal de contas, terminar um namoro não é tão difícil assim.

É claro que uma relação pontuada única e exclusivamente de “Quizzes”, telas de computador, televisão, cinema e algum sexo, nunca vai dar certo. Depois “saquei” que a intenção era justamente essa. A primeira vez que eles olharam um para o outro de verdade, decidiram terminar.

No mais, eu é que estava um pouco de má vontade. Os atores são ótimos. Ela é boa, ele é inteligente, mas aquele ar blasé cansa, como cansa em qualquer ser humano e pensei mais uma vez, foi uma boa “sessão da tarde”, aquilo era só um filme e eu estava ali para ver até o fim, apenas.

 

terça-feira, 16 de junho de 2009

IN TREATMENT

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Paul Weston, 53 anos, é um psicanalista que acabou de se divorciar e pela primeira vez está sozinho. Enfrenta um processo de 20 milhões de dólares movido pela família de um de seus pacientes que supostamente cometeu o suicídio logo após as sessões de terapia. Paul teme ainda mais o que pode acontecer com sua carreira se uma de suas novas pacientes, que está muito doente e recusa qualquer tipo de ajuda, também vier a morrer. Ele está cansado e com medo.

Estes são apenas alguns dos “ganchos” ou, mais apropriadamente, os “sintomas” desta série de televisão que expõe a vida e as instigantes sessões de análise deste controverso profissional. Amado por uns e temido pela maioria.

Americanos supostamente amam Freud. Amam principalmente transformar suas teorias em entretenimento. O já desgastado “Drama Psicológico” que já fez escola em mais de uma centena de filmes e séries aqui atinge seu ponto máximo. Afinal de contas, o que pode acontecer de divertido e interessante em uma sessão de análise?

É o que faz toda a diferença em “In Treatment”. O texto é ágil, esperto e sem melodrama, como pedem os “fundamentos” de um bom seriado. Os dilemas aparecem o tempo todo. O roteirista e produtor é Rodrigo Garcia, filho de Gabriel Garcia Marquez, o que deve ajudar geneticamente, mas o formato foi baseado em uma outra série israelense “Be'tipul”, de Hagai Levi.

O elenco também é (sem trocadilhos) fora de série. Em um certo momento, cheguei a pensar se Gabriel Byrne (Excalibur, Stigmata, Dead Man, Spider) é um grande ator ou um ótimo analista. Dianne West (Hannah e Suas Irmãs, Rosa Púrpura do Cairo, A Era do Rádio) como a analista e amiga de Paul também colabora no processo de investigação do inconsciente.

Não sei como andam as taxas de “transferência”, mas segue aí um trailer da segunda temporada...

domingo, 14 de junho de 2009

NÃO ESTOU LÁ

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Bob Dylan é eminência parda aqui neste blog. É como “O Louco” do Tarô que está em todas as cartas e todas as cartas contém o Louco. É como orixá “Tempo”, que está em todos os orixás e todos os orixás estão em Tempo. Esta breve ilustração é só para dizer que aqui também é assim. Dylan está em todos os posts, todos os posts contém Dylan.

Esta trilha sonora foi dica da Camila. Achei excelente. Geralmente, essa coisa de “outros artistas interpretam a obra de...” tende a ficar com cara de fanfarra. Aqui não, com uma escalação de primeira: Sonic Youth, Yo La Tengo, Stephen Malkmus, Calexico, Tom Verlaine, Cat Power e até o maleta do Jack Johnson se saindo bem com “Mama you´ve been on my mind”, a coisa funciona dentro e fora do filme.

im-not-there08O filme “I´m Not There” (Não Estou Lá, aqui) de Todd Heynes é uma invenção muito bem realizada sobre as constantes mutações que Bob Dylan sofreu ao longo de toda sua carreira. Daí a idéia de colocar seis atores diferentes, incluindo uma mulher (Cate Blanchet) para interpretar as diferentes fases do cantor. Além de ser um dos últimos filmes de Heath Ledger, também estão no elenco Richard Gere, Christian Bale e Ben Whishaw.

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Dylan é um amálgama de quase toda a história do pop. Começou como um cantor de folk, transformou-se em roqueiro e artista pop, depois enveredou por country, gospel e blues. Letras quilométricas, poemas, estórias, parábolas, crônicas de fôlego impressionante que influenciam e atraem até hoje.

Eu que sempre achei que as melhores versões das músicas do Dylan estavam nas mãos de Jimi Hendrix e dos Byrds, esse disco me fez pensar diferente. Deve ser por isso que não paro de ouvir.

Quem quiser dar um confere, tá aqui.

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sexta-feira, 12 de junho de 2009

ARQUIVO X

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Ou “X-Files” lá, é uma série de TV dos anos 90 que mistura ficção científica com investigações policiais. Revendo a primeira temporada, tenho a sensação de que os “anos noventa” não podem ser resumidos apenas em: “Ghost”, “Uma Linda Mulher” e Boris Casoy.

David Duchovny e Gillian Anderson interpretam os agentes do FBI: Fox Mulder e Dana Scully, ele no papel do que acredita na existência de vida em outros planetas e ela a cética. O grande lance da série é que os dois se modificam ao longo dos episódios. Ela começa a acreditar e ele aos poucos desiste. Além do clima de mistério que envolve o seqüestro da irmã de Mulder por aliens e a constante tensão sexual entre Mulder e Scully que atravessa a toda a série.

Criada por Chris Carter, Arquivo X tinha uma particularidade, a narrativa é calma, reflexiva e re-inventa todos os clichês de roteiro policial para um produto de televisão moderno e acessível. Estreou em 1993 e durou até 1998, deu origem a dois longas no cinema “X-Files” de 1998 e “I Want to Believe” de 2008.

J.J. Abrams é o criador de séries e filmes famosos como “Lost”, “Cloverfield” e “Star Trek (2009)”. Criou também a série “Fringe”, atual e em exibição, que é uma cópia descarada de “X-Files”, mas sem carisma. Ah, podemos dar um desconto, ele criou também “Felicity”. A verdade deve estar mesmo fora daqui.

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quinta-feira, 11 de junho de 2009

OS MONSTROS DE BABALOO

Zezé Macedo - Os Monstros de Babaloo

Dr. Badu, é um rico industrial dono de fábricas de marmeladas, bananadas e sardinhas em lata. Seu filho é uma versão mimada de Mogli, o menino lobo. Sua filha, Boneca (Helena Ignez), vive de festas e namora o chofer e massagista mandarim. Sua esposa, Madame Buganville (Wilza Carla), é tarada por sardinhas. Sua empregada, Frinéia (Zezé Macedo), fuma maconha durante o trabalho. Do alto de sua mansão na Ilha de Babaloo, Dr. Badu vê seu império ruir depois de mandar a família para os Estados Unidos e gastar todo o dinheiro com champanhe, festas e mulheres.

Elyseu Visconti produziu, dirigiu e escreveu este filme em 1970, mas não chegou a lançar, foi proibido pela censura. “Os Monstros de Babaloo” não é só uma sátira a classe média brasileira é também uma chanchada muito bem humorada, alucinada e alucinógena sobre relações de poder.

Tudo é bizarro e ao mesmo tempo atraente. Os personagens são disformes, patéticos, porém fotografados em um belíssimo preto e branco. Uma narrativa cheia de cenas de sexo e temas como: popularização de cultos afro, crise financeira, crise na igreja, violência (em uma das cenas, um dos personagens grita para outro brandindo uma pata de boi: “Eu vou te transformar em paçoca!”), uma sensualíssima Betty Faria e Wilza Carla antecipando a “Divine” de Jonh Waters, fazem deste filme uma onda.

“Este filme de Elyseu Visconti conserva ainda a juventude e o sopro renovador que o inspirou. Esta permanência se deve indubitavelmente, à pesquisa formal empreendida pelo autor junto com Rogério Sganzerla e Julio Bressane. EV joga por terra o filme de estilo e busca no gênero a sua função reveladora do cotidiano desglamurizado.” – Miguel Pereira, no livro “Cinema de Invenção”.

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O DVD ainda conta com mais quatro curtas documentais de EV que nada tem a ver com o experimentalismo do longa. São registros sobre uma festa semelhante ao Congado no Espírito Santo, o Cavalo Marinho da cidade de Bayeux na Paraíba, o Boi Calemba (ou Boi Bumbá) em São Gonçalo do Amarante - RN e uma famosa feira em Campina Grande na Paraíba.

De João Carlos Rodrigues, no encarte: “É interessante reparar nas diferentes formas de enfocar a realidade das obras ficcionais e documentais do cineasta. No primeiro caso, percebe-se a deformação caricatural, inclusive física, dos protagonistas; no segundo, a preocupação quase científica com o registro das imagens. Por trás de tudo, entretanto, um cineasta-autor que merece ser conhecido melhor.”

Se “O Bandido da Luz Vermelha” é o Santo Graal, “Os Monstros de Babaloo” é a Pedra de Roseta do cinema marginal brasileiro.

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terça-feira, 9 de junho de 2009

BUZZCOCKS – THE PEEL SESSIONS

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Buzzcocks é uma banda que combina a rapidez dos Ramones com o sarcasmo dos Sex Pistols. Acho que é isso, essa foi a primeira frase que me veio a cabeça hoje enquanto escutava no Ipod dentro do ônibus. Nunca fui um especialista em Buzzcocks, mas sempre achei que esta é uma daquelas bandas que basta uma antologia, ou coletânea para matar a curiosidade e sentir-se bem.

Agora, esta edição das gravações de 1977 / 1979 do programa do John Peel, é uma coisa séria, capaz de fazer ateu ouvir de joelhos. Aqui estão as melhores versões de "Noise Annoys"; “Everybody is happy nowadays”; “Promises”; “"Pulse Beat", “E.S.P" e "Fast Cars". Baixe, grave, copie, compre, monte ou cole em seu ouvido.

Pete Shelley e Howard Devoto, naturais de Manchester, Inglaterra, estudantes de filosofia e literatura, acreditavam que a ética punk deveria ser baseada em: “mudança constante, evitar velhos conceitos e fazer o inaceitável.”  e decidiram formar a banda.

Os Buzzcocks continuam em atividade até hoje. Fizeram um show lindo no Circo Voador em 2007 e já me salvaram a vida várias vezes, sempre que ouço "What do I get" no Lagoa-Barra.

 

domingo, 7 de junho de 2009

FESTIVAL CASSAVETES – II

NOITE DE ESTRÉIA

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“Não estou atuando.” diz a atriz Myrtle Gordon, magnificamente interpretada por Gena Rowlands. Um filme que expõe as marcas entre representar e viver. Cada vez que assisto a um filme de Cassavetes fico tão impactado que acho tudo em volta chato e ultrapassado, tamanho o vigor do sujeito em contar histórias.

“Noite de Estréia” tem a dramaturgia toda construída em cima de idéias de outros filmes do próprio Cassavetes. Seu estilo único de não-separação entre ator e personagem, vida e arte, aqui aparece nos bastidores e fundamentos de uma peça de teatro.

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A atriz principal, Myrtle Gordon, entra em colapso depois de ver o atropelamento de uma jovem fã que minutos antes havia pedido um autógrafo. Depois de romper com seu amante (na vida real) e marido (na peça), interpretado pelo próprio Cassavetes que na época era realmente casado com Gena Rowlands, provoca uma crise de identidade e auto estima de enlouquecer.

Ela reclama que não tem nada a ver com o personagem da peça escrito por uma velha autora de teatro. “Sinto que perdi o senso de realidade da...realidade. Quero atuar de uma forma que a idade seja o menos importante para este personagem.” Gena Rowlands tem um carisma inacreditável. Nunca vi alguém interpretar daquele jeito. Patética, charmosa, quase uma heroína trágica.

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Outro destaque deste filme é a presença de Ben Gazarra como diretor da peça e “melhor amigo” de Myrtle/Gena. Os dois são presença constante nos filmes de Cassavetes, mas nunca atuaram juntos, no mesmo filme. Em “Noite de Estréia” é a primeira vez. Dá para perceber ali um encontro de dois grandes amigos, atores, artistas, pensadores admiráveis e geniais.

“O filme é sobre uma mulher que trabalha, uma atriz, seus sonhos e fantasias que se confundem e misturam com a realidade. Em um certo momento, alguém tenta colocar um ponto final nisso dizendo a ela “Você não gosta de fazer esta peça porque você sente que está envelhecendo.” Por um momento ela não acredita ser esta a razão, mas ela não pode provar isso. Ao longo de todo o filme ela luta sozinha dizendo: “Se eu tiver que aceitar isso, estou acabada, será o fim, nunca mais terei qualquer tipo de alegria ou prazer.” Ela luta e vence no final.” – John Cassavetes.

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sábado, 6 de junho de 2009

PENSAMENTOS – II

Que dia azul ler regar as plantas assistir televisão as noites as dores e as dores da noite quebrar tudo em pedacinhos o que sobre hesita caneta e os livros na estante olhai os livros na estante onde me guardo e me fecho Odu destino tempo e conhecimento quem se entende nessa vida cuidar de meus irmãos enquanto Caetano canta pagode

Traçar o perfil de alguns personagens para um seriado fulano é um cara muito complicado

You are in two minds não se esqueça de respirar tanto em cima quanto embaixo

Mas e a vida e a vida o que é diga lá meu irmão um carro um filho uma casa dinheiro no banco trabalho família e a fiel, certo?

Estávamos sentados no sofá da sala, olhando para a janela em silêncio. Em um carro estacionado do outro lado da rua, nós vimos Elvis

idéias produzem formas formas refletem e reproduzem idéias

Eu fecho meus olhos e faço um filme

sexta-feira, 5 de junho de 2009

JIMI HENDRIX

Este seria um post dedicado a Jimi Hendrix dentro da série “Breves Biografias”, mas como tem tempo que não se fala de música por aqui, prefiro falar especificamente de um disco do grão-mestre varonil. Depois da fúria de “Are You Experienced?”

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e antes da ode triunfal ,“Eletric Ladyland”,

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veio tudo que seria possível fazer no reino da guitarra elétrica:

“AXIS: BOLD AS LOVE.”

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Uma tradução decente para o título é difícil achar e pior ainda tentar fazer, melhor mesmo é perguntar para o próprio Hendrix:

“Não é difícil. É sobre amor. Eu apenas pensei esse título. Deve existir algum sentido por trás da coisa toda, mas tem a ver com o eixo da Terra que leva apenas um quarto de dia para mudar, e tem o poder de mudar toda a superfície terrestre. Com o amor é a mesma coisa. Tem o poder de deixar seu mundo inteiro de cabeça para baixo e isso é forte, poderoso. Pessoas se matam por amor, mas quando você tem amor por alguém ou por alguma coisa, uma idéia quem sabe, o amor aniquila a raiva e movimenta mares e montanhas. Isto é o que eu sinto e tento dizer com essas músicas.”

Pra quem não conhece:

TÁ AQUI

e aqui, nos traços de Moebius:

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segunda-feira, 1 de junho de 2009

SEM ESSA, ARANHA

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Acredito que em lugar nenhum do mundo aconteceu um evento como o Cinema Marginal Brasileiro enquanto manifestação de iventividade. Lá pelo fim dos anos 60 e início dos anos 70, a história desse período é uma história de radicalização. Rogério Sganzerla, Julio Bressane, Ozualdo Candeias e Carlos Riechenbach aprofundaram esteticamente o que alguns diretores do cinema novo abandonaram.

Sem Essa, Aranha (1970) de Rogério Sganzerla é um filme que reúne Zé Bonitinho, Luiz Gonzaga e Kid Morengueira. O primeiro no papel do último capitalista do Brasil, o segundo como um líder religioso e o terceiro como ele mesmo. A história é mais ou menos essa: O mundo acabou e ficou dividido entre milionários e favelados. Personagens do pós-apocalipse transitam no meio de palafitas, plantações de milho, boates de strip tease, rituais de umbanda, quimbanda tudo isso em quinze planos sequencia de gosto duvidoso e ao mesmo tempo sublimes.

Sganzerla no livro “Cinema de Invenção” de Jairo Ferreira: “Não tenho nenhum pudor em realizar tal plano inclinado, tal diálogo ou situação cafajeste. Filmar como habitualmente não se deve filmar; Isto é, utilizar angulações preciosistas e de mau gosto, alterando a altura da câmera, cortando displicentemente, não enquadrando direitinho, sendo acadêmico quando me interessa.”

Frases como: “O sistema solar é um lixo” ; “Já fiz tudo o que um branco podia fazer” e “Reconheço e identifico o homem recalcado do Brasil, produto do clima, da economia escrava e da moral desumana que faz milhões de onanistas desesperados e de pederastas.” Saem da boca dos personagens como profecias e fazem pensar que o grande barato é consumir tudo o que é bom e fazer apenas filmes péssimos. “O negócio é pecar em dobro”.

sem essa aranha - sganzerla