quarta-feira, 25 de março de 2009

COMO DEFENDER INTELECTUALMENTE O BIG BROTHER

Acompanho o programa desde o primeiro. Algumas edições com mais outras com menos assiduidade. Além do Big Brother, tudo o que a TV transmite, me interessa em algum aspecto, não só pela questão profissional. Muita gente não consegue, mas eu me divirto em frente a TV ligada, é verdade.

Entendo que em relação ao Big Brother, a partir de um determinado momento do “jogo”, quando todas as pessoas minimamente interessantes já saíram, a coisa perde intensidade e fica um tédio que nem a edição, muito esperta por sinal, consegue salvar.

Saindo do “Big Brother” de Orwell, e entrando na "brodagem" da casa, o programa se sai bem. Foram necessárias nove edições, mais de dez anos para se criar um formato definitivo e ainda assim sujeito a improvisações. Como foi o caso desta edição onde tivemos o programa dentro do programa (a casa de vidro, o quarto branco, a casa dentro da casa). Metalinguagem? Alegorias? Símbolos? A ficção mítica?

Podemos até afirmar que o que menos importa dentro da casa são os participantes. Habitar um mundo sem recursos, onde se é forçosamente transformado em um mentiroso, sem ser realmente um mentiroso, a saída é ficar o máximo de tempo em repouso. Deve ser por isso que eles dormem tanto.

O paredão é a metáfora da angústia sobre nosso destino. Trata-se também de uma espécie de “anulação” consentida de si mesmo. De toda maneira o extraordinário se situa no fato que a partir do momento em que a pessoa é “eliminada” ela ganha uma “outra vida” fora da casa. Alguns saem como se tivessem acabado de escrever um "romance de tese". Sou levado a crer que escreveram mesmo. Fico um tempo para parar de pensar que sabão em pó não é uma arma eficaz contra formigas.

Falando em romance, os textos do apresentador Pedro Bial são um programa à parte. Ele sabe disso por ser escritor. As citações que vão de Wittgenstein, passando por Nelson Rodrigues, Camões, Guimarães Rosa e até Winston Churchill parecem recados para todos os detratores do programa. Alguma coisa como: “Aqui o nível da discussão é alto.” O mais impressionante é assistir como os concorrentes tentam decifrar o que acabaram de ouvir. Imagino Pedro Bial debruçado sobre o Livro das Citações atrás de alguma passagem para ilustrar a guerra de espuma entre Fran e Flávio, as estratégias de Max, a placidez de Priscila durante um banho sol e as constatações de Ana Carolina sobre fraude e jogo. Para todos esses casos, sugiro Wiliam Blake:

“Se os outros não fossem tolos, seríamos nós.”

Gostaria de ver mesmo é um Big Brother com a casa vazia. Câmeras transmitindo durante três meses o mato crescendo, a piscina cheia de folhas e a sala acumulando poeira. Os anúncios de publicidade poderiam até ficar por lá. O que contaria seria o sentimento sempre presente de nossa finitude.

bigbrother

3 comentários:

paoleb disse...

que jóia isso haGoldo. amei. já entrou no rol de citações na minha tese sobre as câmeras de vigilância. alieas defendo dia 06/05. fest dia 13 de maio para comemorar a abolição da escravatura!

opiniática disse...

acho que eles deveriam demitir o bial e te contratar para apresentar o bbb.

Artur Miró disse...

Filósofo da televisãoe xiste nenhum. Vc inaugurou!